S. Agostinho de Hipona: um homem de inteligência brilhante e notável escritor, um homem de paixão, de fé e doutor da Igreja. Que pode este santo, dizer-nos, hoje?
S. Agostinho foi um incansável buscador da verdade. Depois de percorrer vários caminhos, acabou por descobri-la dentro de si, como algo eterno, absolutamente verdadeiro e certo: o próprio Deus por quem ansiava. “Criaste-nos para Vós e o nosso coração vive inquieto enquanto não descansa em Vós” (Confissões I, 1,1).
O mais relevante da vida de S. Agostinho é a sua conversão. O seu percurso espiritual pode ajudar-nos no nosso próprio caminho de santidade. Deste itinerário, podemos identificar três momentos:
A necessidade da coerência de vida é a primeira fase. Agostinho viveu uma tremenda luta entre duas vontades: a dele e a de Deus. Sim, queria seguir a Cristo, mas ainda não estava disposto a abandonar as suas amarras. Por isso, deixava a sua conversão sempre para amanhã. Foi no meio desta luta que, num jardim, de repente, ouviu uma voz que cantava: “toma, lê, toma, lê” (VIII, 12, 29) e deparou-se com a exortação de S. Paulo aos Romanos para abandonar as obras da carne e a revestir-se de Cristo (Rm 13, 13-14). Compreendeu que era o próprio Deus quem lhe falava através deste texto. Na Escritura encontrou a paz e a força para se entregar livremente a Cristo.
Resolveu então seguir a Cristo através da contemplação e do estudo num mosteiro. Mas os planos de Deus eram outros: foi ordenado sacerdote e mais tarde Bispo de Hipona. O que Deus queria era que pusesse ao serviço do próximo o fruto da sua inteligência. Agostinho, habituado aos grandes debates filosóficos e teológicos, aprendeu a humildade de saber falar numa linguagem simples, de que hoje todos podemos beneficiar. O segundo momento da sua conversão foi este: aprender a servir a Cristo nos outros.
A terceira fase pode resumir-se a uma palavra: caminho. No início, S. Agostinho pensava que sendo batizado e celebrando a Eucaristia passaria a ser, de uma vez por todas, o cristão perfeito, idealizado no Sermão da Montanha. Logo deu conta que só em Cristo é possível esta perfeição. Assim, ensina-nos que somos todos pecadores a caminho, necessitados de contínua conversão. Com esta atitude de humildade aprendemos a pedir perdão a Deus e a louvá-lo com a nossa vida.
A incessante oração e lágrimas de Santa Mónica, sua mãe, foram fecundíssimas neste processo. S. Agostinho reconheceu o seu valor nesta oração: “Não desprezastes as lágrimas que regavam a terra por toda parte em que orava. Vós, Senhor, escutastes os seus rogos. Sim, ouviste-la”. (I, 11, 12).
Santo Agostinho mostra-nos que o processo de conversão é um caminho que dura toda a vida e que não se percorre sozinho, é um itinerário feito com Deus, os Santos e nós.
28 de agosto de 2021
Santo Agostinho