É tempo de dar graças! O Senhor continua a chamar hoje! E há jovens a dizerem-Lhe que “Sim!”
Dentro de poucos dias, a Ir. Ângela Oliveira professará os seus votos perpétuos na cidade onde vive atualmente, em Fátima.
Por detrás do “Sim” que dirá no próximo dia 8 de setembro, às 10h, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, diante da sua comunidade, família e amigos, a Ir. Ângela guarda uma história de ‘resistência-cedência’ ao que Deus quis para ela.
Vale a pena ler, dando graças pelo dom da sua vida e entrega!
“A melhor pessoa para estar aqui
a falar da minha história era Ele”
“Para ser grande, sê inteiro”.
Foi na certeza desta “inteireza”, que disse sim à vida consagrada.
Ângela Manuela Ribeiro de Oliveira tem vinte e sete anos e é natural de Guimarães. É a mais nova de quatro filhas. “Fui a última esperança de rapaz! Mas agora já há dois netos.” Teve uma infância muito serena e feliz, num percurso que apelida de “normal, numa família católica, com marcas de relação com Deus”, que lhe transmitiu a fé como herança. Nas viagens mentais que faz ao passado, relembra sobretudo imagens concretas que a marcaram.”Recordo a peripécia que era a ida à Missa ao domingo. O meu pai no carro à espera das cinco mulheres.” Evoca a memória para lembrar a assiduidade na Missa dominical, em família. À boleia desta lembrança, vem também a das viagens que fazia em família. Nota-se que se sente confortável a avivar o passado, mas não conseguimos distinguir se o brilho dos olhos vem das memórias, se do facto de falar da família. Provavelmente, de ambas.
UM PERÍODO DE ESCOLHAS DIFÍCEIS
A jornada pelo passado percorre os anos até aos dias em que Deus ainda se circunscrevia à ideia do “Altíssimo e era aquela imagem distante”, a quem pedia ajuda para proteger a família e para ajudar nos testes.
Foi na adolescência que se viu, pela primeira vez, interrogada com a vocação da vida consagrada. Lembra um período de escolhas que lhe foram difíceis, nomeadamente sobre o curso secundário a seguir. A opção por uma área de ensino não foi fácil, conta, até porque a vontade de querer aprender de tudo um pouco já vinha de trás. “Quando era pequenina, queria ser pintora, pianista, professora.” Decidiu-se por ciências, mas a escolha perdurou apenas por dois anos, altura em que mudou para artes. O gosto pelo desenho e pelas artes performativas falaram mais alto e os esquissos que ia fazendo nos cadernos de biologia, traçavam uma nova escolha. Anulou as disciplinas específicas e estudou para os exames da área que escolhera, concluindo o ensino secundário em artes visuais.
Foi a par desta mudança que investiu mais no gosto que sempre teve por teatro, começando a frequentar um curso. “O ser humano tem tendência para ser o protagonista do palco da sua vida, mas será tão mais feliz se apontarmos os focos a Jesus e O colocarmos no centro das nossas vidas“, faz questão de dizer.
UMA VOCAÇÃO QUE FOI CRESCENDO
O processo de discernimento vocacional foi progressivo, afiança. “Eu já tinha visto Irmãs, uma ou outra vez, lá em Guimarães, mas nunca me tinha envolvido”. No subconsciente da Ângela pairava uma imagem de certa forma preconceituosa do que é “ser religiosa”, de semblante carrancudo, distante e rigorosamente séria; até que surgiu um contacto mais próximo, aquando da entrada da sua irmã de sangue na congregação da Aliança de Santa Maria. Fala de Bernardete, sete anos mais velha que ela. “Como é que a minha irmã foi para freira!? A Bernardete!?” Tinha então treze anos e começou a participar em encontros juvenis, organizados pela Congregação. A indiferença inicial foi-se convertendo, gradualmente, em interesse crescente.
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“Como é que elas conseguem ser tão alegres,
tendo quase nada? O que é que estará por detrás de toda esta alegria
Descreve uma experiência intensa e marcante, que a fez desconstruir a ideia de um Deus distante e a ajudou desvelar um Deus-baixíssimo, que se queria colocar frente-a-frente consigo. Dar sentido a tudo. “O meu conhecimento da Aliança foi muito marcado pela relação com as Irmãs e por este encontro com Jesus, através de uma mediação, propiciada pelos encontros que frequentava”. Em cada encontro era “esvaziada de tudo”, até de preconceitos, conta, e a cumplicidade que sentia naquele lugar, fazia-a sentir-se bem. Começou então a questionar-se, primeiro pelas coisas aparentes. “Como é que elas conseguem ser tão alegres, tendo quase nada e o que é que estará por detrás de toda esta alegria na entrega?“.
“Ao constatar toda esta felicidade e proximidade, comecei a questionar-me sobre o que é que Ele quereria para mim”. Foi nesta introspeção, “que ao mesmo tempo transtorna e cativa“, que descobriu a vocação como um processo de felicidade e realização pessoal. Recorda um poema de Fernando Pessoa que descreve muito bem o que a acompanhava naquela fase: “para ser grande, sê inteiro”. Qual era a sua medida? Seria feliz na medida em que fosse inteira! Era uma questão de inteireza… “Ter cabeça, coração, pernas, mãos, boca, tudo para Deus e para os outros!”
A oração diária e a ajuda de uma Irmã foram fundamentais neste período, recorda. A vontade de ali estar e de lá voltar era um dos sinais mais evidentes de que a sua vocação se cumpria na vida consagrada. “Houve uma altura em que os encontros já não chegavam e comecei a sentir necessidade de mais. Era mesmo um enamoramento e já não me conseguia imaginar fora dali.“
Um momento que considera ter sido marcante no seu processo de discernimento foi a morte de um amigo, num acidente de viação: “Tive um abanão que me fez pensar no quanto a vida é frágil e breve, que me despertou para a importância de descobrir o meu lugar e de não ‘defraudar’ Deus.”
UM CAMINHO COM ALTOS E BAIXOS
Tomou então a decisão de, após o 12º ano, entrar para a Aliança de Santa Maria. Embora tivesse tido uma perceção ainda em jovem da vocação consagrada, não foi por isso que deixou de viver as coisas com mais intensidade, revela. Até à decisão definitiva houve altos e baixos, recorda. Perceber a vontade de Deus não se conjuga – a maior parte das vezes – com facilidade de entendimento.
Nesta altura, começou a trabalhar a tempo parcial e o dinheiro que ia juntando permitia-lhe experimentar outra independência. Houve também vezes em que “o coração bateu mais forte e sentiu “borboletas na barriga”. Por outro lado, o gosto pelo teatro e a possibilidade de ingressar num curso superior nesta área faziam-na repensar a decisão que estava para tomar. Lembra uma altura em que se dedicava a muitas atividades. Mas, quando à noite regressava a casa, quando o silêncio enfim ganhava voz no quarto. Irresistível. O lugar e a marca que Deus ocupava nela era mais forte do que qualquer outra paixão. Ela sabia que já não sabia ser sem Ele e quis seguir o que sabia. A sua vocação se cumpria na vida consagrada.
UMA VOCAÇÃO QUE SE CUMPRE
Atualmente prepara-se para os votos perpétuos. Após 9 anos de caminho de intimidade e crescimento, dirá, diante da sua comunidade, família e amigos: “Sim, quero.” à pergunta: “Queres, com o auxílio da graça de Deus, abraçar para sempre a mesma vida de perfeita castidade, obediência e pobreza, que Cristo Senhor e a Virgem Sua Mãe para Si escolheram?”
Ela sabia que já não sabia ser sem Ele
e quis seguir o que sabia.
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Artigo adaptado da Entrevista de Diogo Carvalho Alves para
Jornal Presente | Diocese de Leiria-Fátima