Lúcia de Jesus: uma vida pautada pelo silêncio

«O bom Sacerdote, depois de me ter ouvido, disse-me estas breves palavras: Minha filha, a sua alma é o templo do Espírito Santo. Guarde-a para sempre pura, para que Ele possa continuar nela a Sua acção divina. […]De joelhos, aí, aos pés de Nossa Senhora, peça-Lhe, com muita confiança, que tome conta do seu coração, que o prepare para receber amanhã dignamente o Seu querido Filho e que o guarde para Ele só. Havia na Igreja mais que uma imagem de Nossa Senhora. […] Pedi-Lhe, pois, com todo o ardor de que fui capaz, que guardasse, para Deus só, o meu pobre coração. Ao repetir várias vezes esta humilde súplica, com os olhos fitos na imagem, pareceu-me que ela se sorria e que, com um olhar e gesto de bondade, me dizia que sim. Fiquei tão inundada de gozo, que a custo conseguia articular palavra» (MIL, 70-71).

Lúcia “é o templo do Espírito Santo” e, como o desabrochar silencioso de uma magnólia, deixava que o tempo, a luz e o lugar a fossem preparando para acolher a ação de Deus na sua história. Talvez, falar de Lúcia seja pautar o silêncio.

Podemos dizer que a sua voz marcou o século em que habitou, não por grandes discursos sócio-políticos, mas por fazer ecoar o silêncio d’Aquele que a habitava.

Guardar é, para mim, o verbo que mais identifica a história de Lúcia de Jesus, pois toda a sua vida serviu de ostensório aos segredos do Rei, às palavras de Sua Mãe do Céu e à vida escondida dos seus primos. No seu olhar encontramos o sorriso da Mãe do Céu que outrora fitou. Na sua vida encontramos o desejo de Deus. Diz Simone Weil que «o desejo, orientado para Deus, é a única força capaz de elevar a alma. Ou melhor, é Deus que vem apoderar-se da alma e a eleva, mas é o desejo que “obriga” Deus a descer».

Foi este desejo que elevou, Lúcia de Jesus, até Deus, foi este desejo que tornou a vida de Lúcia um poema segredado ao Rei.

A tua luz
Imersa na LUZ
Foi umbral
Foi livro aberto
E permanece memória.

Sophie Alves, asm

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