Cruzei o olhar com a Mulher

PALAVRA versus SILÊNCIO II
um poema a cada dia vinte e um.
 


21 de abril 2021

Trazemos ainda viva a memória da Páscoa do Senhor, do dom da cruz e da herança tão grande que dela nos veio – a Mulher que nos deste. Com Ela, a Mãe de todas as horas, acolhamos o Senhor inteiro nos passos da nossa vida. Que o Senhor venha e nos faça ir, nos ajude a permanecer e a ser lugar escondido carregado da Sua presença.

Cruzei o olhar com a Mulher que nos deste
Sob aquela árvore nobre e gloriosa
Da qual nos veio como fruto
A morte e a Vida.

Guardo ainda memória
Das suas mãos estendidas
Do corpo curvado e
Olhar fundo a sussurrar-Te:

Largo a mão do teu corpo,
meu Filho, que te perdi
para Te ganhar
inteiro.
Agora nasces, atravessado no meu colo,
no coração de quem se atreve 
a acolher-te
de vez.

Dá-te à luz o Pai 
já sem tempo e sem lugar, 
em nós,
para sempre.

Vem.
Vindima-me e cerca o rebanho que acusa dispersão
Quero ser de uma só peça.

Vou.
Quero correr
“pelos caminhos e azinhagas”
Reclamar presenças.
Pois é do tamanho cheio
Que queres a casa
e a mesa e o banquete.

Permaneço.
Encosto o meu rosto sobre o peito:
quero nascer de
dentro.
Cobre-me com o manto da tua 
misericórdia e
faz-me crescer.

E ser
lugar escondido 
Como árvore onde pousam as aves
Do Céu. 
E se abrigam.
Se refugiam.
Se escondem.
e Te escondem. 

Ângela Oliveira, asm

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