Nos dias 22 a 24 de abril de 2016 decorreu, na Casa de Formação das Irmãs da Aliança de Santa Maria, o retiro destinado para jovens raparigas sobre a temática da misericórdia orientado pelo Padre Fernando Paiva, Reitor do Seminário de Almada da Diocese de Setúbal. Contou a presença de catorze jovens que arriscaram tirar três dias e duas noites para abrirem o coração ao amor de Deus
“que se dá a Si mesmo, para sempre, gratuitamente e sem pedir nada em troca”.
[Misericordiae Vultus, 14]
CONTA-ME COMO FOI
| SECÇÃO TESTEMUNHOS |
Tirar dos pés os sapatos, diante do Deus que me espera. Talvez seja esta a melhor frase para descrever o que vivi no retiro. Tirar dos “pés” aquilo que me apertava, que me oprimia e que não me deixava tocar a terra. Foi o tempo. O tempo em que me retirei para que me retirasse os sapatos o Homem que habita o silêncio. Foi o tempo. O tempo de me esbarrar com a Misericórdia, no seu coração voltado para a minha miséria. Foi o tempo. O tempo de encontrar o Deus que se rasga para que toda eu seja inteira.
Foi tão fácil deixar-me cair no esquecimento de sentido. Os trabalhos, os testes, os exames, os amigos, a família, “aquilo que (não) deveria fazer”, “o que era suposto”, “o que vou fazer depois do secundário”, envolveram-me de tal forma que me esqueci do essencial.
“Escuta”. Quando me predispus a isto abri a porta ao Essencial que veio, assim, escondido, para falar (sim porque Deus fala no silêncio) do sentido que abarcava toda a confusão do meu coração. Veio falar num dialeto que eu entendo e que me é próximo.
Veio dizer-me ao ouvido que me ama, que eu importo para Ele, que os “teres” e “deveres” não são o mais importante, mas sim, o encontro com o vibrante Amor com que Ele me envolve.
Encontrarmo-nos no silêncio é uma experiência que nos mete de forma transparente com Deus. De certa forma apesar de saber que Ele está sempre connosco não há da nossa parte esse esforço para a simplicidade junto dele.
A misericórdia é um tema muito delicado por ter uma grandeza difícil de alcançar no nosso dia a dia. Foi realmente bom conseguir refletir sobre isso de forma calma e serena.
A pausa na rotina para um encontro profundo no silêncio falante é uma experiência que nos fortalece interiormente na relação com Aquele que está sempre disponível para nos acompanhar e que, de uma forma ou de outra, está sempre ao nosso lado.
Quando o trabalho e o estudo começam a ser demasiado, nada em como parar, respirar fundo e perceber o que Deus quer para mim e para a minha vida. O “parar” não significa portanto “ficar a olhar eternamente para o dia de ontem2, vai muito mais além disso: é o olhar para o ontem, ver o percurso realizado até ao hoje; aprender com o que de menos bom aconteceu, e de olhos limpos, coração tranquilo e com uma dose de confiança q.b. continuar o Caminho. E no terminar um ciclo académico, o parar para ver em que ponto estamos é importante.
Aqui, é onde o retiro se revela um grande desafio: olhar para todo o percurso feito, e em silêncio, perceber onde a misericórdia de Deus está em cada momento da nossa vida. É claro, nestes dias em que paramos somos conduzidos pela história de Jesus, e mais do que fazermos um caminho paralelo, fazemos um caminho juntos, pois desde o ouvir atento e confiante de Maria à entrega e ressurreição do Senhor, viajamos. E é perfeitamente normal que em determinados momentos as nossas vidas se cruzem, mesmo sendo o espaço temporal bastante desfasado. São vidas, são histórias.
“…e em silêncio,
perceber onde a misericórdia de Deus
está em cada momento da
nossa vida
O silêncio…. esse para algumas pessoas pode ser constrangedor e para outras maravilhoso; pois, isto de ouvir Deus tem que se lhe diga (e nem sempre estamos disponíveis para O ouvir). Em determinados momentos, o silêncio para mim torna-se uma grande discussão com o Criador, onde faço as perguntas todas e mais algumas, questiono o sentido da vida e o rumo a tomar; é um ir ao fundo do baú (ir ao meu íntimo, às minhas entranhas) com Aquele que me ama tal como sou. Mas, se em determinados momentos o silêncio é uma grande discussão pessoal com Deus, noutros é uma grande paz e tranquilidade. Tudo é sereno quando o Santíssimo está exposto, como aconteceu na oração de adoração no sábado à noite. Simplesmente estamos e contemplamos o que nos rodeia e acima de tudo, contemplamos o que nos Ama primeiro. E não estamos sós no Caminho! Aqui, o ter alguém fisicamente a nosso lado (um Sacerdote, uma Irmã) disponível para nos ajudar a perceber os sinais, é uma mais valia. A Eucaristia Dominical, um dia de festa e alegria, com a imposição do escapulário, transporta-nos para uma “vida nova” com o Ressuscitado.
De volta a casa, e com o puzzle que é a vida a ser construído, a tranquilidade, a paz e o coração vêm disponíveis a aceitar o que Deus deseja para nós, pois, “Quem quer o que Deus quer, tem tudo quanto quer” e se a vontade é de Deus, quem sou eu para contrariar?
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Álbum Retiro de Jovens 2016