Santo Inácio de Loiola
Celebramos hoje a memória de um grande santo. Se porventura já ouvimos falar dos Jesuítas ou dos Exercícios Espirituais, é sinal de que a sua influência ecoa até aos nossos dias. Falamos de Santo Inácio de Loiola, um homem que por causa do Senhor tudo perdeu e considerou como lixo, “a fim de ganhar a Cristo e nele ser encontrado” (Fl 3, 8-9).
UMA CENTELHA DESPERCEBIDA
Nascido em 1491 numa família nobre de Loiola, Inácio foi até aos vinte e seis anos “homem dado às vaidades do mundo e deleitava-se sobretudo nos exercícios das armas, com um grande e vão desejo de honra”(1). O Senhor já fazia parte da sua vida, mas era como uma centelha despercebida entre os holofotes da cidade. Embrenhado em batalhas e sonhos de cavalaria, nem se dava conta de que Deus se aproximava e rondava o castelo do seu coração, para dele tomar posse.
A brecha para entrar nesse coração surgiu quando, aos trinta anos, foi ferido em batalha numa das pernas e constrangido a permanecer no leito. Sem outros livros com que se entreter senão “Vida de Cristo” e “Vida dos santos”– para seu desgosto –, começou a afeiçoar-se ao que lia sobre Jesus e sobre os santos e a querer imitá-los. Contudo, o seu interior era um campo de batalha(2) e oscilava entre Deus e as “coisas do mundo”, particularmente a bela dama que desejava conquistar. Que escolher?
O INCÊNDIO DE UM CORAÇÃO
A centelha fora lançada e Inácio deixou-se incendiar, porque este lume que lhe ardia no peito e que era Deus era maior do que tudo. Serviria a bandeira de Cristo e trabalharia para a Sua maior glória.
Os longos e intensos meses passados em Manresa, pouco depois da sua conversão, seriam o “berço da sua espiritualidade”(3) e fariam brotar nele o desejo sempre crescente de “ajudar as almas”.
O FOGO ATEADO
Mestre do discernimento espiritual, a Santo Inácio foi concedido o dom de “compreender o modo como Deus nos fala interiormente”(4), dom maturado num método para ajudar a encontrar Deus e a Sua vontade em todas as coisas e compendiado nos Exercícios Espirituais.
‘Em 1538, ele e os primeiros companheiros ofereceram-se ao Papa para serem por ele enviados, decisão que se converteria numa oferta de total e permanente disponibilidade ao sumo pontífice e se traduziria no quarto voto de obediência ao Papa, “princípio e fundamento” da Companhia de Jesus'(5), da qual Inácio foi fundador. Queriam ajudar as almas na Igreja e em total comunhão com o Papa.
Santo Inácio morreu a 31 de julho de 1546. Nos 400 anos da sua canonização, celebramo-lo como grande enamorado de Cristo, mestre do discernimento espiritual, pilar de comunhão na Igreja(6), peregrino que se deixou incendiar pelo amor de Deus e se consumiu para ‘meter no coração de toda a gente o lume que lhe ardia no peito‘, como diria a pequena Santa Jacinta Marto.
Filomena Santana, asm

[Pormenor de Mosaico de Rupnik]
[1] INÁCIO DE LOIOLA, Autobiografia de Santo Inácio de Loiola, A.O., Braga 2005, n.1.
[2] cf D. PEDROSO, Em tudo Amar e Servir,A.O. 2007 (2ª ed.), 25.
[3] [trad. nossa] “culla della sua spiritualità” – SEMINARIO ARCIVESCOVILE DI MILANO, Ignazio di Loyola. Pellegrino e guida, Seveso 2002 (2ª ed.), 8.
[4] https://pontosj.pt/jesuitas/espiritualidade-inaciana/, (consultado a 25/07/22).
[5] cf SEMINARIO ARCIVESCOVILE DI MILANO, Ignazio di Loyola, 16.
[6] FRANCISCO, Homilia do Papa Francisco. Eucaristia por ocasião do ano inaciano, https://www.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2022/documents/20220312-omelia-400-ignazio-loyola.html (consultado a 18/07/22).