Rezar a vida de Charles de Foucauld, é aproximarmo-nos de um homem bom, cujo sentido da vida se baseava na bondade e na amizade. Um homem apaixonado pela vida escondida ao jeito da casa de Nazaré, vivendo não apoiado nos sucessos e conquistas obtidos, mas na certeza serena de quem sabe que a sua vida depende não de si, mas de Deus.
na certeza serena de quem sabe que a sua vida depende não de si, mas de Deus”
Foi, por isso, com grande júbilo e solenidade que, a 15 de maio deste ano, dia da sua canonização, os peregrinos encheram a praça de S. Pedro para festejar o momento no qual a Igreja o reconheceu como modelo universal de vida e de santidade.
Charles de Foucauld nasceu em Estrasburgo a 15 de setembro de 1858, sendo o segundo de três irmãos. Aos seis anos de idade, perde os pais e os avós paternos e passa a viver com o avô materno, contexto a partir do qual a sua personalidade vai ganhando os seus traços. É um jovem fechado em si e na sua solidão, sendo sustentado unicamente pelo carinho do seu avô. Aos dezassete anos afirmava: “eu era todo egoísmo, vaidade, impiedade e maus desejos”.
Progressivamente foi crescendo nele uma solidão amarga e dura que seria, mais tarde, a causa da sua conversão, nos finais de outubro de 1886, ano decisivo da sua vida.
Mais tarde haveria de dizer que, depois de tantos caminhos, tantas decisões e de tantos vazios, foi testemunha de tantos olhares atentos, de pessoas próximas e muito queridas que o ajudaram a perceber o vazio da sua vida e o sentido da fé. Como ele próprio se expressou: “pouco a pouco comecei a ir à igreja sem ter fé e ali ficava durante longas horas a repetir: ‘Deus meu, se existis, fazei que eu vos conheça’.”.
‘Deus meu, se existis,
fazei que eu vos conheça’
À luz de um artigo de Miguel Márquez, publicado na ocasião da sua beatificação, recolhemos três ideias que marcam profundamente a sua vida:
1. IMITAR A CRISTO.
Charles de Foucauld procura imitar Jesus na Sua vida pobre e humilde, no trabalho de Nazaré. Não o quer imitar tanto na Sua vida pública, com a pregação, mas na vida escondida, entregando-se ao trabalho humilde e colocando aí todo o amor. Dizia: “o amor tem como efeito a imitação, por isso devo imitar a Jesus na sua vida humilde”;
Para ele, a humildade da vida escondida de Nazaré, encontra a sua radicalidade no Crucificado por amor, pelo que os seus olhos estão constantemente voltados para o exemplo de Jesus, querendo em tudo imitá-Lo.
2. NAZARÉ: DESEJO APAIXONADO POR UMA VIDA ESCONDIDA E PELO ÚLTIMO LUGAR.
A vida da Nazaré já não será apenas um lugar físico, como em tempos o procurou, mas converter-se-á num projeto de vida. Sente-se chamado a viver em qualquer lugar a espiritualidade de Nazaré; tornar-se contemplativo no meio dos homens.
A sua missão principal é a sua presença amiga, orante e pobre no meio de um povo que escolhe para viver, desejando aí cooperar na obra da salvação com a sua entrega por amor.
Charles de Foucauld era próximo, amigo de todos, rico de gestos cobertos de ternura e delicadeza de quem deseja viver apaixonado por Jesus.
3. IRMÃO UNIVERSAL: UMA CARIDADE SEM MEDIDA NEM FRONTEIRAS.
Charles de Foucauld vive uma caridade sem medida e sem fronteiras. Aproxima-se dos que estão mais longe da presença de Deus, vai ao encontro dos Tuaregues, não para os converter, mas para os compreender, e de tal forma os cativou que, mais tarde, lhe deram o nome de irmão universal.
É belo olhar para a vida deste homem e perceber que estamos diante de alguém que se entrega por um sonho de paz e de reconciliação. Que morre violentamente, mas sem fazer ruído. O desejo do seu coração era o de se situar ao nível deste povo na certeza que aí teria acesso aos seus corações, e ainda que não chegassem a abraçar a fé, pelo menos saberiam que Jesus tinha estado entre eles e que a sua presença era amor, sorriso e mãos estendidas.
Por isso, podemos dizer que Charles de Foucauld era um homem bom, carinhoso e próximo. Um homem que recomendava aos que trabalhavam com ele: “sê humano, carinhoso e vive sempre alegre”.
Poderíamos resumir assim a vida deste homem: um homem de paz, amigo dos pobres, muito carinhoso e com o coração cheio de bondade.
Que ele nos desafie a viver, em cada dia, essa mesma alegria e bondade!
Cidália Machado, asm