Os Santos e nós – Santa Ângela de Foligno
Ângela de Foligno nasceu por volta do ano de 1248. Oriunda de uma família opulenta, ainda muito jovem Ângela ficou órfã de pai, devendo a sua educação exclusivamente a sua mãe. Esta ministrou-lhe uma educação meramente superficial, o que contribuiu para que, desde cedo, Ângela entrasse nos meios mundanos da cidade. Em Foligno, conheceu o homem com o qual casou e teve filhos.[1]
O ano de 1285 é marcado pela conversão a uma vivência mais profunda e coerente da fé cristã. Começando por reconhecer-se como pecadora, Ângela inicia o seu itinerário espiritual entregando-se à penitência como forma de satisfazer a Deus pelos pecados cometidos.
O amadurecimento da sua vida interior acontecerá diante da contemplação da Cruz, que a fará compreender que Jesus não é apenas Aquele que morreu pela humanidade, mas acima de tudo é Aquele que a amou de forma incondicional ao ponto de dar a Sua vida por ela na Cruz. Diante deste sublime amor, Ângela percebe que a resposta mais digna que pode dar a Cristo é a oferta da vida. Esta mudança radical trará um período de dificuldade provocado pelas hostilidades e incompreensões da sua família, em especial do seu cônjuge, face aos propósitos abraçados. É também nesta fase que Ângela sofrerá a morte gradual dos seus mais íntimos – mãe, marido e todos os seus filhos.
Posteriormente, durante a contemplação da Paixão de Cristo, Ângela compreende que Jesus a convida a ir mais longe: “- que podes fazer por Mim que te pareça bastante?”[2]. Esta a interrogação que Jesus lança a Ângela convida-a a rasgar horizontes e a caminhar em direção ao cume do amor perfeito. Perante este chamamento, Ângela decide abandonar o mundo para se entregar à penitência.

Ao longo do seu itinerário, iniciará uma nova etapa marcada pela inabitação do Deus-Trindade na sua alma. São várias as moções que a ela são dirigidas e que a fazem sentir-se muito amada por Deus:
«E começou a dizer: “filha minha, doçura minha, filha minha, delícia minha, templo meu, delícia minha, ama-Me, porque tu és muito amada por mim, muito mais do que Tu me amas.” (…) E acrescentou: “Eu amo-te mais que qualquer outra coisa viva no vale de Spoleto”»[3].
Estas experiências místicas não anularam os períodos de escuridão interior. Houve igualmente horas em que Ângela deixou de sentir a presença de Deus e se confrontou com o resfriamento das suas virtudes e com o reaparecimento de antigas e novas formas de vício. A noite escura cessa quando Ângela percebe que não é pelas suas forças, mas que é pela graça de Deus que pode amar o seu Senhor.
A última etapa do seu caminho espiritual, termina com a transformação da alma em Deus e Deus nela[4]. Esta designação dada à última fase do seu percurso procura exprimir o elevado grau de união com Deus que a sua alma conseguiu atingir, ao ponto se tornar uma só com o seu Senhor, tal como lhe é confirmado pelo próprio Jesus ao dizer-lhe: “tu és Eu e Eu sou tu”[5].
No cume do seu caminho espiritual, Ângela é conduzida ao ápice da perfeição do amor. Aí aprendeu a amar Deus de forma desinteressada e gratuita, preferindo-O a qualquer consolação ou deleito espiritual. Para Ângela, pouco importa o que irá beneficiar ou sofrer com esta relação. O importante é estar em Deus e Deus nela.
[1] Cf. BENTO XVI, «Audiência geral. Beata Ângela de Foligno» disponível em https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2010/documents/hf_ben-xvi_aud_20101013.html.
[2] ÁNGELA DE FOLIGNO, El libro de la Vida, Editorial Misiones Franciscanas Conventuales, Buenos Aires, 13.
[3] Ibidem, 20.
[4] Cf. Ibidem, 105.
[5] Ibidem, 59.
Liliana Reis, asm