As aparições | a par e passo | maio

Continuamos com a nossa rubrica “A par e passo”.
Uma proposta para nos ajudar a entrar no coração de cada aparição da Mensagem de Fátima.

Neste mês de maio aqui vos deixamos com a reflexão da Ir. Liliana, que nos oferece uma leitura sobre a aparição de maio de 1917.

***

Um olhar sobre o dia 13 de maio de 1917

O dia 13 de maio de 1917 tornou-se um dia histórico para a Igreja e para o mundo. Na verdade, são incontáveis as celebrações e os atos devocionais que se realizam nos quatro cantos da Terra para comemorar tão grande dia. No Santuário de Fátima, milhares de peregrinos oriundos de todas as nações afluem à Cova da Iria para celebrar esta data. Contudo, a importância do dia 13 de maio dever-se-á apenas ao facto de se fazer memória da primeira aparição da Virgem Maria na Cova da Iria ou haverá algo mais que o singularize e lhe confira tal notoriedade?

Um olhar global sobre a Mensagem de Fátima faz-nos compreender como a mariofania do dia 13 de maio surge como o coração de todas as aparições que constituem a Mensagem de Fátima. É para esta aparição que o Anjo vem preparando os videntes e, ao mesmo tempo, vemo-la a abrir um novo horizonte, um novo caminho. Com efeito, como poderiam os pastorinhos responder afirmativamente ao convite da Virgem Maria – “quereis oferecer-vos a Deus?”[1] – sem que o Anjo os introduzisse no Mistério do amor de Deus, lhes despertasse o sentido da adoração, a necessidade da reparação e lhes ensinasse a sacrificarem-se e a interceder pelos pecadores? Do mesmo modo, também a oração do rosário pedida pela primeira vez em maio de 1917, pôde ser saboreada e compreendida pelos videntes de uma forma nova, após estes terem vivenciado pelas mãos do Anjo como o método da oração repetitiva desagua no conhecimento da presença íntima de Deus na alma.

Se a visão do dia 13 de maio pode ser vista como o culminar de um caminho iniciado pelo Anjo, ela aparece, simultaneamente, como a porta de entrada de um novo itinerário, tal como afirma a Virgem Maria: “vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos […]. Depois vos direi quem sou”.[2]  Claramente, surge um novo percurso que aqui floresce e que será sustentado pelo “sim” dos videntes aos pedidos de Nossa Senhora. Na verdade, se ao longo das restantes aparições de 1917 a Virgem Maria pôde confiar aos pastorinhos os segredos e as intenções do seu Coração, foi porque em maio eles já tinham oferecido as suas vidas.

A riqueza da aparição de maio joga-se ainda na forte experiência de Deus com que Lúcia, Francisco e Jacinta foram privilegiados, a qual permitiu que os pastorinhos se vissem e se conhecem a eles mesmos na luz divina: “foi ao pronunciar estas últimas palavras (a graça de Deus, etc.) que abriu pela primeira vez as mãos, comunicando-nos uma luz tão intensa, como que reflexo que delas expedia, que penetrando-nos no peito e no mais íntimo da alma, fazendo-nos ver a nós mesmos em Deus, que era essa luz, mais claramente que nos vemos no melhor dos espelhos”.[3] Afirma o cardeal D. António Marto que “ver a luz de Deus e ver-se nessa luz é fazer a experiência da humanidade nova transfigurada, vinda do seio do próprio Deus, da participação da vida divina que Deus quer comunicar às suas criaturas”.[4] Em conformidade com o pensamento de D. António Marto, podemos concluir que a experiência mística da luz permitiu aos pastorinhos conhecerem-se a eles próprios com verdade, não apenas a partir daquilo que eram, mas acima de tudo a partir daquilo que serão em Cristo. A aparição do dia 13 de maio ensina-nos que só nos conheceremos a nós mesmos quando mergulharmos no Mistério de Deus. Aí saberemos quem somos. Mais ainda, saberemos o que um dia seremos em Cristo no céu, por sua graça e misericórdia.


[1] Lúcia de Jesus, Memórias da Irmã Lúcia, vol. 1 (Fátima: Secretariado dos Pastorinhos, 2007), 173.

[2] Lúcia de Jesus, 173.

[3] Lúcia de Jesus, 174.

[4] António Marto, «Fátima: uma luz sobre a história do mundo», em Mensagem de esperança para o mundo. Acontecimento e significado de Fátima, ed. Vítor Coutinho (Fátima: Santuário de Fátima, 2012), 36.

Liliana Reis, asm

foto: Santuário de Fátima

Mais
artigos