Continuamos com a nossa rubrica “A par e passo”.
Uma proposta para nos ajudar a entrar no coração de cada aparição da Mensagem de Fátima.
Neste dia treze do mês de junho trazemos duas reflexões, uma sobre a aparição de junho de 1917 e a seguinte, que sairá nesta tarde, sobre a aparição de Nossa Senhora à Ir. Lúcia, em Tuy no ano de 1929.
Deixamo-vos com a reflexão da Ir. Filomena, que nos oferece uma leitura sobre a aparição de junho de 1917.
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Um olhar sobre 13 de junho de 1917
Fátima, «escola de fé»
«Quero que (…) aprendam a ler». Assim se dirigia Nossa Senhora aos Pastorinhos, na aparição de 13 de Junho de 1917, com um pedido que é também um convite a instruir-se nas coisas de Deus. Sim, nesta «escola de fé» que é Fátima, podemos aprender as «verdades eternas e a arte de orar, crer e amar», tendo a «Virgem Maria por Mestra», como dizia Bento XVI[1]. Em Fátima, podemos aprender a viver o Evangelho hoje, dando a Deus o primeiro lugar nas nossas vidas e vivendo na lógica do dom de nós mesmos, em reparação. Nesta escola, aprendemos a contemplar os mistérios da vida de Jesus através das contas do Rosário e a aproximarmo-nos do Coração Imaculado de Maria, este Coração no qual «o fiat – “seja feita a vossa vontade” – se torna o centro conformador de toda a existência»[2].
A Senhora do Coração Imaculado
Após o início das aparições, as dificuldades e incompreensões não se fizeram esperar para os Pastorinhos, particularmente para a pequena Lúcia. Na aparição de Junho, Nossa Senhora anuncia que levará em breve o Francisco e a Jacinta para o Céu, mas que a Lúcia ficará na terra mais algum tempo, para espalhar no mundo a devoção ao seu Imaculado Coração. «Fico cá sozinha?», pergunta com pena. É neste momento que a Virgem Maria lhe apresenta uma solução: o seu Coração. «Não, filha. E tu sofres muito? Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus» [3].
Gosto de ver como a pequena Jacinta se aproximou tanto deste Coração Imaculado e por isso procurava referir todas as coisas a Deus, mesmo nas tribulações. Conta a Irmã Lúcia nas suas Memórias que havia uma senhora na terra que insultava os Pastorinhos sempre que os via e que certa vez não se acontentou somente dos insultos. Dizia então a Jacinta: «Temos que pedir a Nossa Senhora e oferecer-Lhe sacrifícios pela conversão desta mulher». Dias mais tarde, quando os Pastorinhos passavam diante da porta da mesma senhora, a Jacinta, «sem pensar que alguém a podia ver, levanta as mãozinhas e os olhos para o Céu» e oferece o sacrifício de não brincar, pela conversão dos pecadores. Espreitando por um postigo da casa, a senhora que os insultava presenciou a cena e ficou de tal modo impressionada com esta ação da Jacinta que acreditou nas aparições e, arrependida, daí em diante pedia aos Pastorinhos que intercedessem por ela a Nossa Senhora (Memórias, 56).
Uma troca de pedidos
A aparição de 13 de Junho é a primeira em que vemos a Lúcia pedir por alguém, assumindo o papel de intercessora. Neste dia pede a cura de um doente. Não é a única vez que o fará. Em todas as outras aparições, até 13 de Outubro, pedirá a Nossa Senhora ora a cura de doentes, ora a conversão de pecadores e apresentará as súplicas daqueles que assim o pedem. Também Nossa Senhora, nas aparições, intercede pelos pecadores. «Trocam o mesmo pedido, com palavras diferentes, como amigos que confiam a sua intimidade ao outro»[4]. A Lúcia assume-se como intercessora diante da Mãe do Céu porque o seu coração começou já a ganhar as feições maternais daquele Coração Imaculado. Por isso, as necessidades dos outros são as suas. Por isso, não pode deixar de apresentar à Virgem Mãe toda a humanidade.
A aparição de 13 de Junho de 1917 é assim um convite a aprofundar as verdades da nossa fé, um apelo a confiar no Coração Imaculado de Maria como refúgio e caminho para Deus e um chamamento a interceder pelos outros, fazendo nossas as suas necessidades.
[1] BENTO XVI, Discurso aos bispos da Conferência Episcopal de Portugal por ocasião da visita «ad limina apostolorum»,
https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2007/november/documents/hf_ben-xvi_spe_20071110_bishops-portugal.html (consultado a 10/06/23).
[2] J. RATZINGER, Comentário Teológico, https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20000626_message-fatima_po.html (consultado a 10/06/23).
[3] LÚCIA DE JESUS, Memórias da Irmã Lúcia (doravante, Memórias), Fundação Francisco e Jacinta Marto, Fátima 2015 (17ª ed.), 175.
[4] P. VALINHO GOMES, O espanto de Deus. Para uma espiritualidade de Fátima, Santuário de Fátima, Fátima 2020, 89.
Filomena Santana, asm
foto: Vitral | Capela Farol dos Pastorinhos