As aparições | a par e passo | 15 junho 1921

Continuamos com a nossa rubrica “A par e passo”.
Uma proposta para nos ajudar a entrar no coração de cada aparição da Mensagem de Fátima.

Ainda neste mês de junho trazemos mais uma reflexão, desta feita sobre a sétima aparição à pastorinha Lúcia de Jesus aquando da sua saída de Fátima para o Porto.
Deixemo-nos acompanhar pelas palavras da Ir. Madalena, que nos oferece uma leitura a partir de dentro e por dentro da sétima aparição, a 15 de junho de 1921.

***

A titânica luta entre a natureza e a graça

A 7ª aparição é diferente de todas as outras. Foi dirigida de forma muito pessoal à Lúcia, mas ilumina também a nossa vida.

Este sétimo encontro estava “agendado” já desde maio de 1917. Recordemos o diálogo dessa aparição:

“– O que é que Vossemecê me quer? – perguntou a Lúcia.

– Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia 13 a esta mesma hora. Depois vos direi quem sou e o que quero. Depois voltarei ainda aqui uma sétima vez”.

Depois de seis aparições seguidas, com dia, hora e local bem definidos, esta 7ª aparição parece ser um “extra” e comportar um lado misterioso, já que era desconhecido o momento em que se realizaria.

Foi no dia 15 de junho de 1921.

Nessa altura, a pequena Lúcia, já sem a presença do Francisco e da Jacinta – a quem Nossa Senhora tinha levado para o Céu – encontrava-se exausta diante de tantas solicitações e interrogatórios. A mudança para o Colégio das religiosas de Santa Doroteia, no Porto, foi a solução encontrada pelo Bispo D. José Alves Correia da Silva para salvar a pequena pastorinha daquela situação. Uma decisão que comportava, contudo, a saída de Fátima e uma despedia que se apresentava à Lúcia maior do que as suas forças.

Depois de ter dito ‘sim’ à mudança, parece faltar-lhe a coragem para o manter até ao fim. O que escreveu no seu Diário permite-nos conhecer o estado do seu coração naquela hora: “Viste a minha resolução de voltar atrás (…) Deixar tudo para ir sabe Deus para onde! (…) Impossível, não vou!”[1].

Que armas usa a Lúcia num momento de guerra interior? A Eucaristia e o olhar colocado em Nossa Senhora.

“Chegou o dia 15. De manhã cedo, Lúcia foi à missa à Igreja de Fátima, para aí receber o Pão do Céu e obter força para o caminho que se abria na sua frente, completamente desconhecido. Rezou com intensidade invulgar (…) Lançou um olhar de súplica à imagem da Senhora do Rosário (…) e saiu da Igreja apertando fortemente as mãos sobre o peito, como a querer segurar a força daquela Comunhão que recebia aí pela última vez na sua vida. Sobre a sua alma, tinha-se escurecido tudo; levantou-se uma terrível tempestade de dúvidas. Estava a esgotar-se o tempo e ela não sentia força para avançar”[2].

No meio da tempestade, irrompe a presença luminosa de Nossa Senhora que, colocando a mão sobre o ombro da Lúcia, lhe confirma que os caminhos por onde o Bispo a quer levar são os da vontade de Deus. Neste momento, a paz torna ao seu coração e a Lúcia repete um ‘sim’ mais consciente do que aquele dado dois anos antes, no dia 13 de maio.

Seguir Jesus sem aceitar alternativas, nem sempre é fácil. Tem as suas lutas, como vemos já desde as primeiras linhas do Evangelho. Por vezes, Deus chama-nos a percorrer caminhos que desconhecemos, e isso assusta-nos. Ele quer levar-nos mais longe; conduzir-nos a uma liberdade de coração que só se vai adquirindo quando nos lançamos para a frente na sua vontade, sem olhar o que fica para trás.

Neste movimento espiritual a que todos somos chamados, não estamos sozinhos. A nossa vida está cheia de momentos de “7ª Aparição”, onde somos fortalecidos e acompanhados por Nossa Senhora que, sem nos tirar as dificuldades, restitui a paz ao nosso coração.

Na 7ª aparição, vemos, por um lado, a Lúcia que não está a conseguir manter o sim dado; Nossa Senhora, por outro, é fiel à promessa de maio: “voltarei uma sétima vez” e vem, de facto. Então, talvez possamos dizer que a Lúcia continua o seu caminho de fidelidade, porque recebe de Nossa Senhora a Luz e a Paz. Porque Nossa Senhora veio e não faltou ao compromisso, a Lúcia foi para o Porto e não faltou ao seu sim. Somos fiéis porque Deus é fiel. 


[1] Carmelo de Coimbra, Um caminho sob o olhar de Maria, p.121

[2] Idem, p.120

Madalena Silva, asm

ilustração: Ângela Oliveira, asm

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