As aparições | a par e passo | 19 agosto 1917

Continuamos com a nossa rubrica “A par e passo”.
Uma proposta para nos ajudar a entrar no coração de cada aparição da Mensagem de Fátima.

Para este mês de agosto trazemos uma reflexão, sobre a quarta aparição de Nossa Senhora aos três pastorinhos na Cova de Iria.
Deixemo-nos acompanhar pelas palavras da Ir. Isabel Santos, que nos oferece uma leitura a partir de dentro e por dentro desta aparição.

***

A aparição das “coisas pequenas”

Seria de esperar que a narrativa da aparição de agosto de 1917 se tecesse por entre os ramos da mesma azinheira dos meses precedentes, e o mar de gente que já acorria à Cova da Iria, atraído quer pela devoção assim como pela curiosidade.

No entanto, o mês de agosto assinala-se diferente porque Nossa Senhora apareceu aos videntes nos Valinhos no dia 19, e não no dia 13 na Cova da Iria, já que estes haviam sido presos nesta data.

1. Nos seus desencontros e encontros, a aparição de agosto fala-nos da fidelidade de Deus e a resposta humana:

“Se não tivessem abalado contigo para a Aldeia, seria o milagre mais conhecido” (Virgem Maria a Lúcia, 19/08/1917)

Como diria S. Paulo aos romanos, “fique claro que Deus é verdadeiro, mesmo que todo o homem seja falso!” (Rom 3, 3). As limitações dos homens não impedem de todo a realização dos desígnios divinos. No entanto, em Fátima, a Virgem Maria salienta a importante responsabilidade no acolhimento dos dons de Deus, do papel decisivo da liberdade do Homem para que a promessa da salvação desejada por Deus se consuma plenamente na História.

2. Esta é também a aparição das “coisas pequenas”. Toda ela é tecida de pequenos e escondidos sinais, falando-nos, porventura, mais do Deus escondido do que todas as outras aparições.

A Virgem Maria aparece longe de tudo e dos olhares mais curiosos. Não lhes dá a contemplar revelações consideráveis (como nos meses anteriores), apenas a força e a doçura das suas palavras e um perfume celeste que ninguém havia sentido antes e que “quebrou” a incredulidade da mãe da Lúcia[1].

Em agosto, a Virgem Maria revela que: “Vinha Nossa Senhora do Rosário com dois anjos de cada lado, e Nossa Senhora com um arco de flores à roda”[2]

A beleza da imagem evoca, talvez, uma das possíveis facetas do Triunfo do Coração Imaculado como triunfo da Senhora do Rosário que não alcançou nada mais, a não ser a vida plena de Deus pela sua presença e acolhimento incondicional dos mistérios da vida de Seu Filho Jesus. Esta vitória estende-se a todos aqueles que se fazem pequenos acolhendo os seus pedidos em Fátima (Rosário, conversão, sacrifícios reparação). Assim, a Mãe, humilde e triunfante, far-se-ia adornar ­ como flores ­ pelas almas humildes.

3. Quando olhamos hoje para o mar de luz que se estende da Cova da Iria para todos os cantos do mundo não podemos deixar de nos maravilhar pela Graça que ainda superabunda como fruto da resposta afirmativa aos pedidos de Nossa Senhora para que se construíssem dois andores para a festa de Nossa Senhora do Rosário, e uma capela em sua honra[3].

Em Fátima, poderíamos dizer que esta comemoração é, também, anúncio da Mensagem de conversão, oração e oblação da própria vida dos demais, em favor da paz no mundo. A fé tem de ser recordada, celebrada em comunidade, caso contrário, corre o risco de se apagar.

Por fim, a persistência de Nossa Senhora em ir ao encontro de Francisco, Jacinta e Lúcia, reajustando a sua agenda e destino, fala-nos – através dos pequenos gestos e sinais ­da fidelidade de Deus que espera ser acolhida na responsabilidade e humildade, não podendo permanecer apenas na esfera da intimidade pessoal mas, antes, testemunhada e celebrada em comunidade.

Isabel Santos, asm
Imagem: Pintura de Maria Áurea, asm | Farol do Anjo


[1] Cf. 2 Maria de Freitas apud Luciano Cristino, «As Aparições de Fátima. Reconstituição a partir dos documentos» (Fátima: Santuário de Fátima, 2017) 69.

[2] DCF I, Doc. 4, de 21 de agosto de 1917, 2ª edição, 36.

[3] Lúcia de Jesus, Memórias da Irmã Lúcia, 178, 180.

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