Fátima ao detalhe | 13 julho 1917

À medida que as notícias sobre as Aparições de maio e junho se iam divulgando – na velocidade própria de um entusiasmado “boca-a-boca” portador de notícias de esperança e paz em conturbados tempos de guerra – também o “movimento humano” à volta de Fátima crescia ao mesmo ritmo, pelo que – quase que mimetizando o Segredo nesse dia revelado –, a perdida aldeia na Serra d’Aire é progressivamente invadida pelos mais diversos grupos de pessoas, desde os curiosos e simpatizantes, aos desconfiados e antagonistas; dos crentes desde a primeira hora, aos incrédulos até ao fim; dos simples e iletrados, às elites académicas e sociais; dos pobres que apenas podiam deslocar-se a pé, aos abastados que, com a sua curiosidade, arrastavam até Fátima o luxo dos seus automóveis.

É nesse contexto de uma crescente curiosidade humana nos mais diversos círculos – nomeadamente nos mais eruditos e abastados – que várias “novidades” do desenvolvimento civilizacional – até então ignoradas e nunca vistas pelos habitantes de Fátima e das suas redondezas – aparecem pela primeira vez nos recônditos desta Serra, tais como a fotografia, sendo precisamente deste dia – 13 de julho de 1917 – a data do primeiro registo fotográfico dos Pastorinhos, tirado junto à Igreja Paroquial de Fátima, numa tarde de calor de tal modo intenso que até a vela dada à Jacinta para segurar para o retrato, se ter dobrado devido ao calor.

Prescindindo novamente da narrativa da Aparição e respetivo diálogo, amplamente divulgados nas Memórias da Irmã Lúcia I[1],  e voltando o nosso olhar para as fontes da época, percebemos que, à semelhança do ocorrido com o relato da Aparição do mês de junho, também a narrativa desta Aparição está longe de ser algo “estanque”, redigido e revelado ao público num único momento.

No primeiro interrogatório à Lúcia sobre esta Aparição, feito pelo pároco no dia seguinte à mesma[2], não há qualquer referência à existência de um segredo, pelo que, “nesta primeira narração da terceira aparição, há quatro momentos principais: o pedido de Nossa Senhora de voltarem, no dia 13 seguinte; a insistência na oração do terço, para o abrandamento da guerra; os pedidos da Lúcia; e a promessa de Nossa Senhora de fazer um milagre, em outubro, para que todos acreditassem”[3]. O silêncio sobre este tema foi, no entanto, muito breve, pois “alguns dias depois, começaram a correr notícias de ter havido também um segredo e uma oração ensinada aos pastorinhos”[4], notícias que se tornaram num verdadeiro “rastilho de pólvora” para uma “explosão” na extensão da divulgação das Aparições de Fátima enquanto estas ainda decorriam.

Fruto não só da “natural” curiosidade humana em querer conhecer o que “está escondido”, mas também de um complexo “jogo de poderes” – e respetivos medos de que estes poderes pudessem “mudar de mãos –, tem aqui início um longo processo de inquirição relativamente ao conteúdo do segredo que – uma vez mais, mimetizando o conteúdo do mesmo –, é levado a cabo pelos mais diversos tipos de pessoas/poderes que, nas suas respetivas esferas de ação, recorrem a todos os meios ao seu alcance na tentativa de conhecer o seu conteúdo.

Ir. Maria Benedita Costa asm

Fotografia dos três videntes,Jacinta, Lúcia e Francisco, perto da igreja paroquial de Fátima, junto ao cruzeiro. Mário Godinho, 1917.07.13 (Arquivo do Santuário de Fátima – Núcleo Audiovisual)


[1] JESUS, Lúcia de, Memórias…, p.176-178.

[2] Reproduzido em CRISTINO, L. C., As Aparições…, p. 51-52.

[3] Cf. CRISTINO, L. C., As Aparições…, p. 52.

[4] Cf. CRISTINO, L. C., As Aparições…, p. 52.

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