29 de Julho, Santa Marta, Maria e Lázaro
“Jesus, seis dias antes da Páscoa, foi a Betânia” (Jo 12,1), assim nos revela o evangelista João, onde se encontrava Jesus antes de subir a Jerusalém para celebrar a Páscoa da Sua entrega: “Este é o meu corpo que é para vós; fazei isto em minha memória” (1 Cor 11, 24) e assim selar a Sua Aliança de amor: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei isto em minha memória” (1 Cor 11,25).
Podemos falar do jantar e unção de Betânia, em casa de Lázaro, Marta e Maria, como um prelúdio desta ceia pascal de Jesus com os seus discípulos. Uma ceia (Jo 12,2), celebrada na intimidade da amizade, plenamente envolvida na mística da Hora, pré-anunciada ao longo de todo o Evangelho e, agora, prestes a ser vivida.
É à luz da amizade e intimidade vividas na casa desta família de Betânia, que hoje celebramos, que melhor podemos pensar e perceber a mística da Hora do Mestre, tal como nos é narrada em Jo 12,1-11.
Durante a ceia Lázaro, o amigo por quem Jesus chorou, após o seu regresso da morte à vida (Jo 11, 35-36), está sentado à mesa com Jesus. A ceia é celebrada em amizade na comunhão de Vida-morte, em ação de graças. Jesus dá graças ao Pai, porque o ouviu (cf Jo 11, 41), Lázaro dá graças porque o Senhor o chamou de volta à vida (Jo 12, 9). O desejo de Jesus Se sentar à mesa com os apóstolos, é agora expresso com maior intensidade e intimidade. Intensidade porque a Hora se aproxima, intimidade, pois é em ambiente de amizade que Jesus inaugura o tom de despedida com que a eles se dirige daí por diante: “pobres sempres os tendes convosco, mas a Mim nem sempre me tendes” (Jo 12,7)
Marta servia. Marta a quem Jesus dissera: “Marta, Marta, estás preocupada e alvoroçada com muitas coisas, mas uma só é necessária” (Lc 10, 41-42), era alguém a quem Jesus amava (Jo 11,5), que O recebia em sua casa e O servia, em atitude de ação de graças. É Marta quem sai ao encontro de Jesus, e Lhe fala do irmão e o confia a Ele: “Senhor, se estivesses aqui, o meu irmão não teria morrido. Mas, também agora, sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus to dará” (Jo 11, 21-22).
Marta antecipa, de modo invertido, o encontro de Maria Madalena com Jesus na manhã de Páscoa: não é Jesus que, depois da morte, sai ao seu encontro, mas Marta, que tendo entendido no íntimo do coração a “única coisa necessária” (Lc 10,42), vive o serviço ao Mestre como o bom odor da fé.
Por outro lado, Maria, encarna em si a amada do Cântico dos Cânticos, que permanece aos pés do Amado (cf. Lc 10,39), e se levanta quando Ele a chama (cf. Jo 11,28). É a amada que unge o corpo do Amado antes da Sua morte, quebrando aos seus pés o frasco, derramando sobre eles nardo puro de alto preço, e enchendo toda a casa com o seu odor. É o doce gesto de amor silencioso aos pés do Amado, unido ao sacrifício de Cristo-Esposo que Se dá a Si mesmo. “Enquanto o Rei estava, em sua casa, o meu nardo exalou o seu perfume. O meu amado é para mim” (Ct 1,12).
Maria é aquela a quem Jesus proclama memorável dizendo: “Em verdade vos digo: em qualquer parte do mundo em que o evangelho seja proclamado, também se há de contar, em sua memória, o que ela acabou de fazer” (Mc 14,9).
É no ambiente de uma ceia que sobre a mesa é colocado o odor da vida nova (Lázaro), se vive, servindo, o bom odor da fé (Marta), e, na escuta aos pés de Jesus, se derrama a vida, enchendo a casa com o odor de um amor consumado e gratuito (Maria).
A amizade com Jesus torna-se dom de ação de graças, uma vida eucarística, na intimidade da Sua Hora, um tudo fazer e ser em sua memória, como corpo (patena) e cálice tomado em suas mãos, tal como Lázaro, Marta e Maria se deixaram tomar na intimidade desta ceia, na mística da Hora de Jesus.
Ir. Sofia Mendes, asm
Pintura: Ir. Sandra Bartolomeu, snsf