OS SANTOS E NÓS

UM HOMEM CHAMADO JOSÉ
17.01.22

“Os Santos e nós” é o nome desta rubrica inaugurada hoje com “um homem chamado José, da casa de David” (Lc 1, 27).

Haverá ainda que partilhar acerca de S. José após o que Papa Francisco nos deixou na Carta apostólica Patris Corde?

Porém, um outro foco atravessa “Os santos e nós”, um foco vital e pessoal: S. José e nós – S. José e eu!

Vejo S. José como um homem notável, de uma beleza que por mais que seja contemplada, nunca cansa, nem se cansa de se manifestar. A beleza deste homem é a de um homem inteiro, “feito de uma só peça”, coerente e fiel aos compromissos assumidos com o seu Deus e Senhor.

Um homem que acolhe e relativiza todas as coisas, em função do amor de pai e de esposo a que é chamado. Para José, ser pai e esposo era abraçar o Mistério, era fazer seus um Filho e uma esposa, diferentes de outros possíveis filhos ou esposas.

José ama-Os inteiramente como seus, sem se apropriar, sem exercer qualquer tipo de poder, sem buscar nada para si, dando-se sem condições nem recompensas, tal como o Senhor Jesus que vem ao Mundo para servir e dar a vida e não para ser servido (cf. Mc 10, 45). A Kenose do Filho de Deus na sua existência histórica, toca profundamente o ser e toda vida de José, assim como de Maria. Ele participa e comunga do abaixamento de Cristo, numa vida entregue ao amor misericordioso do Pai.

Apesar do seu silêncio nos Evangelhos, acredito num homem que vivia este despojamento com uma alegria contagiante, profunda e única, que só o conhecimento e a intimidade de Jesus Cristo e da Virgem Maria podem dar! Eles eram o tudo da sua vida.

Este é um traço marcante do amor entre este pai dedicadíssimo e os seus filhos: S. José leva-os a colocar no devido lugar as pessoas de Jesus Cristo e da Virgem Maria.

Ninguém como ele, entre os seres humanos, Os conhece e ama; ele conviveu com Eles numa entrega quotidiana, numa grande confiança mesmo não entendendo tudo, como nós também não entendemos; ele sabe o que é abraçar os mistérios de Deus.

S. José ensina-nos a disponibilidade e o acolhimento, ensina-nos a gastar a vida por Jesus Cristo e pelo seu Reino, a pô-Lo no centro da nossa vida e de todos os nossos interesses. Ensina-nos a passar tempo com Jesus no silêncio da adoração e a acolhê-Lo na nossa “casa”, quer na intimidade eucarística, quer no encontro com os irmãos.

S. José ensina-nos a colocar no justo lugar a relação e o amor para com a Mãe de Jesus e nossa Mãe. Ele dá a conhecer o verdadeiro amor da Mãe e a sua dedicação ao Filho de Deus, gerado no seu seio, e este mesmo e verdadeiro amor pelos seus outros filhos, gerados e recebidos aos pés da Cruz do Senhor!

Creio que a maior alegria de S. José, em relação a nós, os seus filhos muito amados, é a de fazer da nossa casa – interior e exterior – a sua casa, onde Jesus tenha o lugar central e onde a Virgem Maria seja amada e honrada, como parte da família!


“se somos filhos de Deus, somos também herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo”
(Rom 8, 16-17)
S. José, zeloso pai,
amados somos na tua casa,
herdeiros com Cristo, o Primogénito,
herdeiros da misericórdia do Pai Celeste,
da graça do seu Espírito
e do amor da Mãe Santíssima,
Nós, os herdeiros com Cristo, do teu coração fiel,
te pedimos: (a)guarda-nos com Ele!

19 de março de 2021

Foto de ASM: Escultura de São José, Maria Amélia Carvalheira
– Capela da Comunidade dos Pastorinhos, Fátima




SANTO AGOSTINHO
20.10.21

S. Agostinho de Hipona: um homem de inteligência brilhante e notável escritor, um homem de paixão, de fé e doutor da Igreja. Que pode este santo, dizer-nos, hoje?

S. Agostinho foi um incansável buscador da verdade. Depois de percorrer vários caminhos, acabou por descobri-la dentro de si, como algo eterno, absolutamente verdadeiro e certo: o próprio Deus por quem ansiava. “Criaste-nos para Vós e o nosso coração vive inquieto enquanto não descansa em Vós” (Confissões I, 1,1).

O mais relevante da vida de S. Agostinho é a sua conversão. O seu percurso espiritual pode ajudar-nos no nosso próprio caminho de santidade. Deste itinerário, podemos identificar três momentos:

A necessidade da coerência de vida é a primeira fase. Agostinho viveu uma tremenda luta entre duas vontades: a dele e a de Deus. Sim, queria seguir a Cristo, mas ainda não estava disposto a abandonar as suas amarras. Por isso, deixava a sua conversão sempre para amanhã. Foi no meio desta luta que, num jardim, de repente, ouviu uma voz que cantava: “toma, lê, toma, lê” (VIII, 12, 29) e deparou-se com a exortação de S. Paulo aos Romanos para abandonar as obras da carne e a revestir-se de Cristo (Rm 13, 13-14). Compreendeu que era o próprio Deus quem lhe falava através deste texto. Na Escritura encontrou a paz e a força para se entregar livremente a Cristo.

Resolveu então seguir a Cristo através da contemplação e do estudo num mosteiro. Mas os planos de Deus eram outros: foi ordenado sacerdote e mais tarde Bispo de Hipona. O que Deus queria era que pusesse ao serviço do próximo o fruto da sua inteligência. Agostinho, habituado aos grandes debates filosóficos e teológicos, aprendeu a humildade de saber falar numa linguagem simples, de que hoje todos podemos beneficiar. O segundo momento da sua conversão foi este: aprender a servir a Cristo nos outros.

A terceira fase pode resumir-se a uma palavra: caminho. No início, S. Agostinho pensava que sendo batizado e celebrando a Eucaristia passaria a ser, de uma vez por todas, o cristão perfeito, idealizado no Sermão da Montanha. Logo deu conta que só em Cristo é possível esta perfeição. Assim, ensina-nos que somos todos pecadores a caminho, necessitados de contínua conversão. Com esta atitude de humildade aprendemos a pedir perdão a Deus e a louvá-lo com a nossa vida.

A incessante oração e lágrimas de Santa Mónica, sua mãe, foram fecundíssimas neste processo. S. Agostinho reconheceu o seu valor nesta oração: “Não desprezastes as lágrimas que regavam a terra por toda parte em que orava. Vós, Senhor, escutastes os seus rogos. Sim, ouviste-la”. (I, 11, 12).

Santo Agostinho mostra-nos que o processo de conversão é um caminho que dura toda a vida e que não se percorre sozinho, é um itinerário feito com Deus, os Santos e nós.


28 de agosto de 2021
Santo Agostinho





O SANTO DE TODO O MUNDO
19.01.22

Tantos livros, tantas maravilhas já se escreveram sobre Santo António. É ponto para perguntar: que mais se poderá dizer sobre a vida deste Santo?

Começo por reafirmar aquilo que Leão XIII dissera acerca dele: “Santo António é o português mais conhecido, mais amado, o mais humilde, o maior entre os grandes, é o Santo de todo o mundo” (P. Oliveiros de Jesus Reis, Santo António nosso grande amigo).

E porquê esta afirmação, “o Santo de todo mundo”? Porque na verdade, Fernando de Bulhões, o nosso Santo António deixou aquilo que o mundo chama de grande: as honras, os louvores humanos, tudo o que é efémero, para aderir completamente a Jesus Cristo, com vontade de a Ele se consagrar e até ao martírio, se daí decorresse como aqueles a quem quis assemelhar-se.

Nesta rubrica “Os Santos e nós”, eu vejo, então, em Santo António, alguém que, porque muito lutou por viver na mais profunda união com Deus, nos pode ajudar a atingir a finalidade para a qual todos fomos criados, a SANTIDADE.

O Senhor já no Antigo Testamento, nos diz: “Sede santos porque Eu o Senhor vosso Deus sou Santo” (Lv 19,1-2). Os documentos da Igreja dizem-nos isso mesmo: “O motivo mais sublime da dignidade humana é a união com Deus (…) se o homem existe é porque Deus o criou por amor e, por amor, não cessa de o conservar na existência” (GS 19).

Santo António amou profundamente a Sagrada Escritura e tentou levar a todos este amor à Palavra de Deus. O Papa Gregório IX, que o canonizou, chamou-lhe mesmo, a “Arca viva do Testamento” porque ele pregava aquilo que vivia, e era tal o ardor, o fogo com que o fazia, que as multidões aderiam às suas palavras e, muitos hereges se convertiam do seu mau caminho. Podemos ver aqui, aquilo que experimentara Sto. Agostinho, aquando, da sua conversão:

“Mal acabei de ler algumas frases da Escritura, penetrou-me no peito uma espécie de luz serena, e todas as trevas da dúvida se dissiparam” (Sto Agostinho, Confissões 8,12).

Admiramos em Santo António a sua grande humildade, ao entrar na Ordem de S. Francisco, não revelou, nem sequer aos seus superiores, os dotes das suas credenciais, mas o Senhor, que não queria que aquela luz ficasse debaixo do alqueire, se encarregou de o fazer, quando lhe foi pedido, para subir ao púlpito, e pregar o sermão das ordenações de novos sacerdotes.

Recordemos algumas frases do sermão que ele pregou:

“Estamos aqui irmãos, para celebrar com estes jovens, que aceitam abraçar a cruz de Cristo, seguindo a única luz que ilumina o escuro da noite. Faz isto, quem consagra a sua vida ao Senhor. Abandona a mulher amada, esquece os amigos, dececiona o pai, deixa sozinha a mãe, despede-se dos encantos do mundo, das riquezas, dos confortos e da própria Pátria. No entanto, ele não está sozinho. Onde quer que vá tudo leva consigo (…)

Porque em Cristo está o descanso, a aventura, a paz.

As perguntas são infinitas.

Mas a resposta é uma só, Jesus Cristo”.

Santo António desde a mais tenra idade, dedicou especial devoção à Santíssima Virgem a quem muito amou, se consagrou, e escolheu como guia e sustentáculo da sua vida e da sua morte. Os Santos são em Deus. Mas para nós. Que nos diz, pois, para hoje Santo António?

Diz-nos: Que o primeiro apelo de Deus é reconhecermos que este mundo é o caminho para a Pátria definitiva. Vivemos nele e para Ele. Para a nossa jornada na terra, temos disponíveis tantos meios: a oração, a Palavra de Deus na Escritura, a Eucaristia, a devoção a Maria Santíssima. Que outros como nós do mesmo barro, nos precederam e, que pela dedicação ao próximo, para nós se tornaram modelos e por nós intercedem.

Considerado “O Santo de todo o mundo” pelos muitos milagres a ele atribuídos. Não admira pois, que o Papa Pio XII a 16 de Janeiro de 1946, o tenha proclamado Doutor da Igreja com o título de Doutor Evangélico, na Carta Apostólica que principia com o elogio:

“Alegra-te, feliz Lusitânia; salta de júbilo Pádua ditosa, pois gerastes para a terra e para o Céu um varão que bem pode comparar-se com um astro rutilante, já que brilhando, não só pela santidade da vida e gloriosa fama de milagres, mas também pelo esplendor que por todas as partes derrama a sua celestial doutrina, alumiou e ainda continua alumiando o mundo inteiro com luz fulgidíssima”.

(Santos de cada dia, Secretariado Nacional do Apostolado da Oração)


julho de 2021
Foto: Mateus Campos Felipe, Unsplash