PALAVRA versus SILÊNCIO I um poema a cada dia vinte e um 21 de março 2021
dia mundial da poesia
Neste dia em que celebramos as palavras, desejamos que elas nos aproximem cada vez mais da Palavra que, em Jesus, nos foi legada. Que o Evangelho receba de cada um de nós uma casa onde habitar, um campo onde dar fruto e um louvor de gratidão.
Há uma criança que se ergue do berço de cada palavra.Se dorme, Demoramo-nos a decorar-lhe os traços No silêncio do seu pousio. Se desperta, Colhemos maravilhados O espanto dos seus sentidos. Ela cresce Na demorada extensão do tempo Fazendo-nos crescer Na lenta compreensão da vida.São crianças as palavras Que nos fazem levantar a meio da noite Pois só encontram descanso ao colo da promessa
De recriarmos um gesto onde possam deitar-se E acordar de novo Para deixar tudo forado lugar.
Elas desarrumam a casa e a vida. E se assim não for, se não há barulho e alegria quedas e choro tinta nas paredes sofás riscados e a mais sincera gargalhada, É melhor ir espreitar
Porque a palavra é uma festa Felizes os convidados paraa ceia da verdade.
Aí as tuas palavras são crianças inconvenientes e inoportunas Para desconserto das certezas que fechamos inacabadas. E atrapalhados pelas perguntas aguçadas de tão simples E cheias de razão, Reinventamos contritos e humilhados A promessa da escuta, A fome do estudante, A confiança do pobre. Não sabemos de onde vêm nem para onde vão: As tuas palavras são crianças que crescem De noite.
A cada uma delas seja dada uma casa Um campo e um louvor.
Verónica Benedito, asm
Voz de Fausto Raínho Ferreira
Cruzei o olhar com a Mulher
19.01.22
PALAVRA versus SILÊNCIO II um poema a cada dia vinte e um 21 de abril 2021
Trazemos ainda viva a memória da Páscoa do Senhor, do dom da cruz e da herança tão grande que dela nos veio – a Mulher que nos deste. Com Ela, a Mãe de todas as horas, acolhamos o Senhor inteiro nos passos da nossa vida. Que o Senhor venha e nos faça ir, nos ajude a permanecer e a ser lugar escondido carregado da Sua presença.
Cruzei o olhar com a Mulher que nos deste Sob aquela árvore nobre e gloriosa Da qual nos veio como fruto A morte e a Vida.
Guardo ainda memória Das suas mãos estendidas Do corpo curvado e Olhar fundo a sussurrar-Te:
Largo a mão do teu corpo, meu Filho, que te perdi para Te ganhar inteiro. Agora nasces, atravessado no meu colo, no coração de quem se atreve a acolher-te de vez.
Dá-te à luz o Pai já sem tempo e sem lugar, em nós, para sempre.
Vem. Vindima-me e cerca o rebanho que acusa dispersão Quero ser de uma só peça.
Vou. Quero correr “pelos caminhos e azinhagas” Reclamar presenças. Pois é do tamanho cheio Que queres a casa e a mesa e o banquete.
Permaneço. Encosto o meu rosto sobre o peito: quero nascer de dentro. Cobre-me com o manto da tua misericórdia e faz-me crescer.
E ser lugar escondido Como árvore onde pousam as aves Do Céu. E se abrigam. Se refugiam. Se escondem. e Te escondem.
Ângela Oliveira, asm
Em cada instante graças Te dou!
19.01.22
PALAVRA versus SILÊNCIO III um poema a cada dia vinte e um 21 de maio 2021
Viver o dom da vida, é deixar-me ser olhada por Deus e deixar que Ele diga quem sou, na criança-filha de Deus, que aprendeu a crescer e a conhecê-lo sob olhar do Crucificado. A Sua fidelidade, torna-me criança, por isso, na peregrinação da vida, chamo por Ele, reúno tudo o que há em mim e no silêncio da Paixão da Vida, aprendo a viver em ação de graças em cada instante n’Aquele que me faz tomar parte na Sua vida, da sua santidade.
Por isso, como o Apóstolo Paulo, não cesso de “com alegria; dar graças ao Pai, que nos tornou capazes de tomar parte na herança dos santos na luz” (Cl1,12), pedindo o bastante, o pão de cada dia no diálogo escondido com o Pai.
Em cada instante graças Te dou!
Tu que me olhaste no Teu pensamento, No silêncio do tálamo nupcial Uma vida nasceu. E me geraste na palavra Quando o meu nome pronunciaste E o corpo me deste.
Conhecida na eternidade E dada a conhecer no tempo…
Vida de uma frágil criança Que o Teu nome aprendeu a balbuciar No regaço de sua mãe Quando no príncipio Te contemplava Mesmo desconhecendo-Te…
A cruz, Lugar onde os nossos olhares Se cruzaram e mais se conheceram. E sob esse olhar O Teu dom foi crescendo em mim Na paixão de um amor maior.
Na Tua fidelidade a minha pequenez.
Chamo por Ti Reúno os destroços e as minhas ruínas tomo-os nas mãos como dom peregrina no silêncio da Paixão da Vida Em cada instante Graças Te dou!
Ensinas-me a ser forasteira A percorrer caminhos nunca antes imaginados Pedindo o bastante: o pão de cada dia No diálogo escondido com o Pai.
Trago em mim Esse dom tão frágil e único: vida na Vida porque me trazes em Ti também.
Subamos juntos A calçada da minha fragilidade. Faz-me Tua memória Nos mais pequenos gestos.
Faz-me tua cúmplice Porque em mim nada é fora de Ti E a vida que tenho, é Tua.
Sofia Mendes, asm
O último andar
19.01.22
PALAVRA versus SILÊNCIO IV um poema a cada dia vinte e um 21 de junho 2021
São Francisco Marto disse um dia à Lúcia e à Jacinta: “Daqui a pouco, já Nosso Senhor me leva pró pé dele e, então, vejo-O sempre”. Era o grande desejo do coração deste menino: estar sempre perto de Nosso Senhor e olhar para Ele. O seu coração de criança desejava ardentemente o Reino que lhe estava prometido, de tal forma que se lhe falássemos do Céu, o último andar, o Francisco diria: “é lá que eu quero morar”!Que ele nos ensine a tornarmo-nos como crianças, pois, como nos disse Jesus, é a elas que pertence o Reino (cf. Mt 19,14).
O último andar
No último andar é mais bonito: do último andar se vê o mar. É lá que eu quero morar.
O último andar é muito longe: custa-se muito a chegar. Mas é lá que eu quero morar.
Todo o céu fica a noite inteira sobre o último andar. É lá que eu quero morar.
Quando faz lua, no terraço fica todo o luar. É lá que eu quero morar.
Os passarinhos lá se escondem, para ninguém os maltratar: no último andar.
De lá se avista o mundo inteiro: tudo parece perto, no ar. É lá que eu quero morar:
no último andar.
Cecília Meireles
Voz de Constança Paiva Couceiro
Seleção de Ana Felício, asm
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